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A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón

A Sombra do Vento

Para mim, uma das características essenciais de um bom livro é, independente do tema abordado, conseguir prender a atenção do leitor a ponto de fazê-lo perder o sono só para ler um pouco mais. Já me senti assim diversas vezes, principalmente com livros de suspense. Entretanto, alguns conseguem transcender até mesmo o nível dos “bons”, alcançando um patamar diferenciado. Esses têm o poder de deixar o leitor completamente imerso na trama, até quase esquecer a realidade e passar a se sentir literalmente o protagonista do livro, a ficar triste, irritado ou feliz dependendo do momento em que a história se encontra. Desde 2001 até pouco mais de um mês atrás, somente os livros da série Harry Potter haviam conseguido chegar a esse ponto enquanto eu os lia, mas isso mudou quando iniciei minha leitura de A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón.

A história se inicia quando Daniel Sempere, pouco antes de seu aniversário de 11 anos, acorda assustado no meio da noite e percebe que já não consegue se lembrar do rosto de sua falecida mãe. Para consolá-lo, seu pai, dono de uma livraria especializada em edições para colecionadores e livros antigos na rua Santa Ana, em Barcelona, o leva ao Cemitério dos Livros Esquecidos, um enorme depósito para obras literárias que foram abandonadas pelo mundo e esperam pacientemente que alguém as reviva. Lá, ele é instruído a escolher qualquer um dos livros e a adotá-lo, garantindo assim que este nunca desapareça. Em meio ao labirinto de estantes, Daniel passa mais de meia hora até tomar sua decisão, ao pôr os olhos na capa cor de vinho e letras douradas de A Sombra do Vento, do desconhecido autor Julián Carax.

Na tarde daquele mesmo dia, ele começa a lê-lo e não consegue parar até chegar à última página, tamanha a sua fascinação. Tentando descobrir mais sobre o autor e outras obras que ele tenha publicado, Daniel busca informações com um antigo amigo de seu pai e apaixonado por literatura, Gustavo Barceló, e descobre que alguém vem destruindo sistematicamente todos os livros de Carax, podendo ser aquele encontrado no Cemitério o último ainda restante.

A partir de então, acompanha-se o crescimento de Daniel, seu primeiro amor e sua primeira decepção amorosa, seu dia-a-dia entre o trabalho na livraria de seu pai e suas investigações sobre o misterioso passado de Carax, nas quais recebe o auxílio do carismático Fermín Romero de Torres, que tem por Daniel e seu pai uma enorme dívida de gratidão. Conforme vai fazendo suas descobertas, Daniel vê que sua vida passa a se confundir com a do autor, às vezes de forma impressionante. E, se no início era apenas a curiosidade que o movia, o desenrolar da história vai se mostrando muito mais sombrio do que ele poderia imaginar, e que um Mal há anos adormecido ameaça retornar para destruir os últimos resquícios de lembranças sobre Carax, mesmo que para isso precise torturar, humilhar e assassinar todos os que ainda persistem em se lembrar dele.

Durante suas buscas, Daniel e Fermín conhecem várias pessoas, algumas ainda vivas, outras que existem apenas em memórias e cartas, cujas vidas se cruzaram à de Carax em algum momento do passado. Nuria Monfort é uma delas, a minha personagem favorita de toda a trama. Não vou explicar muito o motivo dessa minha escolha para evitar spoilers, mas o que eu posso dizer é que em nenhum outro momento me senti tão imerso num livro quanto naquele em que Daniel e ela se conhecem. As reações que ele teve, o que ele pensou e sentiu… Eu realmente me senti no lugar dele. Posso estar exagerando, mas para mim aquele trecho da história foi fantástico.

Ambientado entre as primeiras décadas do século XX e os anos posteriores à Segunda Guerra Mundial (terminada em 1945), passando pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939), A Sombra do Vento é um romance que consegue retratar de forma convincente a melancolia da cidade de Barcelona, onde tudo parece pintado em tons de cinza, como indica a própria capa do livro. Mesmo ao fim das guerras, a ditadura franquista ainda persistia, e o medo de ser capturado e torturado pelos militares continuava bastante intenso.

Conclusão: mesclando o clima de mistério e investigações dos romances policiais com os dramas psicológicos e sentimentais dos personagens, A Sombra do Vento consegue ser sombrio e sensual, épico e trágico. Sem contar que é uma homenagem à literatura e ao fascínio que ela impõe àqueles com capacidade suficiente para admirá-la, a ponto de o bem e o mal no livro ser dividido entre os personagens que adoram ler e os que repudiam qualquer tipo de leitura - como bem diz o principal vilão da história, o repugnante inspetor Fumero, que “Ler é para as pessoas que têm muito tempo e nada para fazer. Como as mulheres. Quem tem que trabalhar não tem tempo para histórias. Na vida é preciso trabalhar. Não concorda?”. Se alguém discorda, sinta-se à vontade para comentar… :)

Capa da edição original

Dados do livro “A Sombra do Vento”
Título Original: La Sombra del Viento
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradutora: Márcia Ribas
ISBN: 9788560280094
Edição: 1 (2007)
Editora: Suma de Letras (Objetiva)
Número de páginas: 399

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